Vick
“Antes só que mal acompanhado.”

Até onde essa assertiva está certa? Será tão impossível conviver com outras pessoas? Será mesmo que a outra companhia é realmente ruim? Ou melhor... Por que não conviver com quem melhor conhecemos? Nós mesmos. Afinal de contas, se o outro é sempre pior, e se somos o outro de quem conhecemos, também não prestamos. É tão difícil conviver consigo mesmo que estamos sempre buscando alguém para compartilhar as escolhas e as decepções. O mais engraçado é que procuramos por pessoas que possuam uma afinidade incomum conosco. Ou por pessoas que pareçam fáceis de moldar. Quer dizer que procuramos por projeções da nossa alma para fugir da monotonia que é a nossa companhia ou simplesmente procuramos por almas vazias que possam assumir alguma projeção. Não nos agüentamos e despejamos no outro todas as expectativas que não conseguimos explicar por que recaiu sobre nós. E rimos do quão incapaz o outro foi ao não superar uma mísera expectativa. E nos cansamos de tanta incompetência. E vamos embora, porque “fulano” não vale nada.

E pode até ser que “fulano” realmente não valha três centavos, mas quem somos nós para julgar e punir? Um tipo cretino de deus que sabe exatamente o ponto fraco do opositor justamente por ter passado ao mesmo o passo-a-passo de como fracassar em determinado aspecto? Como somos espertos... E como somos idiotas por acreditar em nossa estúpida esperteza. Na verdade, cada um é reflexo de quem não atura. É inato esboçar uma reação. Estranho é não fazer isso. E não se conversa mais. Não gosto. Não quero. Me afasto. Pronto. Sou mais feliz e sagaz que qualquer outro idiota como eu. Incrível, não?!

Pensando a epígrafe e esse texto, é impossível se manter longe de uma má companhia, uma vez que nós já somos uma. É tão mais saudável, e honesto, confessar e deixar que o tempo decida o que é melhor... Mas a hipocrisia não nos permite. Hipocrisia. Uma das minhas palavras preferidas. Para mim, uma das que melhor descrevem o homem. É uma ação necessária para a convivência em sociedade. Ou vai dizer que você adora aquela pessoa que faz questão de ser “ingênua” todo o tempo? Que quebra algo que você realmente adora e diz que não faz idéia de como aconteceu... Eu respondo por você... Não... Você não adora essa pessoa, mas convive porque ainda há algum interesse nela. Quando acabar o interesse, acaba a relação. E isso vale para namorados, melhores amigos, amigos do trabalho... Basta que o outro não supere suas aspirações para que você canse dele.

A melhor solução? Além de trabalhar nosso estimado ego? Entender que algumas relações são vitais para o ser humano; enquanto honestas. E procurar admitir que já que é tão difícil lidar com frustrações quando alguém não corresponde ao que oferecia há três meses atrás, talvez a culpa não seja do outro e sim nossa, que tentamos transformar alguém naquilo que queremos que ela seja apenas para que ela não seja uma má companhia; para que seja tão agradável quanto somos. Então com que propósito perdemos tanto tempo com relações que não vão mais mudar enquanto podíamos usar parte desse tempo trabalhando as relações com quem realmente não seria má companhia porque é exatamente como nós somos e procuramos mesmo quando não sabemos o que procurar? Simples... Somos espertos demais para admitir que erramos o tempo todo. A culpa? É sempre do outro.


AGORA

Through Glass - Stone Sour