Vick
A gente passa a vida lamentando as coisas ruins, as conquistas que não foram conquistadas, as derrotas, as desistências, os erros, as previsões fajutas, as possibilidades que nos enganaram, o outro que é mais bonito, a nota que é mais alta, aquele que implica conosco, o cara que não dá bola, a menina que não resolve o que quer de verdade, o dinheiro que acabou, o pé torcido, nunca ter engessado nada... Só reclamações... E quantas manhãs azuladas perdemos por isso? Quantas tardes de pôr-do-sol laranja perdemos? Quantas noites estreladas deixamos passar? Quase todas elas.

Eu venho compartilhar uma coisa boa.

Eu vi.
Eu acordei numa bela manhã e vi como o dia era bonito, como as pessoas me tratavam bem, como era gostoso estar com outras pessoas e comigo também. Isso mesmo. Estar comigo. Eu não sabia que era tão divertido desfrutar do meu bom humor. Andar, correr e cair na areia da praia, fugir das algas em fúria, andar metros infinitos atrás de um picolé, fazer charme para o vento... E era uma manhã linda. A beleza dos momentos seqüenciais estava em todos os detalhes e no estranhamento da situação. Havia outros seres comigo, compartilhando da mesma beleza simples, mas era eu acima de tudo. Eu estava vendo. Como se por toda a vida fosse cega e agora, por milagre de um alguém qualquer, eu pudesse enxergar. E a beleza era ofuscante.

Eu havia visto.
E continuava apreciando o comum... Até que eu percebi como a tarde era agradável... Filme, pipoca, livro, novela, computador... Conversas e pensamentos despretensiosos, mas tão doces... E então o céu estava rosa como numa foto. E eu havia tirado essa foto, o que era mais incrível. Eu havia esquecido como era bom sentir a leveza das pequenas coisas, dos pequenos momentos... E eles estão sempre ao meu lado.

E ainda vieram as estrelas... Até nos meus sonhos elas brilhavam como nunca antes notado... E de novo o céu mostrava como era imponente. Mais que muitos. Tanto quanto o mar, talvez... Não sei bem, mas eu posso ver. E isso me basta. E me deslumbra também. Mesmo com ira e relâmpagos, continuam lindas as noites. O susto não me afasta daquilo que acho bonito. Não mais.

Eu estou me desligando das coisas que me deixavam abatida... Talvez perceber tantos detalhes no céu seja um indicador de que tenho olhado mais para cima que o costumeiro. E isso é bom. As sensações e os sentimentos vêm como se não coubessem no meu peito e dilaceram tudo por dentro. E isso é bom. É o que desejo para qualquer ser no mundo. Nunca pude imaginar que os detalhes e todas as coisas aparentemente pouco relevantes pudessem me (e)levar a um estado tão bom. Não são só as laterais. São todas as direções. Para onde for possível olhar, há que se notar a sensação de bem-estar indicativa da felicidade.

Wake Up Call - Maroon 5

Vick
Eu queria pedir desculpas a você, meu amigo... Queria que me perdoasse por nunca ter lhe dado a mão quando eu sabia que precisava... Perdoe-me por todas as vezes em que disse “não” quando não havia outra vontade mais forte que a de gritar ao mundo o seu “sim”. Houve um descuido enorme com o que significava medo e com o que significava vontade, às vezes a semelhança era tamanha que optava pela catatonia. Uma hora tudo se encaixaria. E se encaixou. Não como quis, ou como acredito que deveria ter acontecido, mas, talvez, da forma que sempre achei mais dolorosa para o mundo e para o outro porque você é meu exemplo de força e coragem. O medo foge de você, tem receio de lhe afetar, pois parece saber que você lutará tão bravamente que ele não possui, nunca, nem ao menos a chance de tentar. Além da força admirável, e por diversas vezes invejável, eu sempre tive em você um ser em quem podia confiar plenamente e sempre procurei demonstrar a reciprocidade da sensação. E eu sei que dentre meus erros e de alguma maneira torta, muitos foram os acertos e inúmeras foram as tentativas...

Eu não queria ter te perdido. Não queria perder nenhum centímetro a mais. E agora você se foi. Eu me lembro de todas as vezes em que te disse para me encarar, olhar nos meus olhos e perder o medo de falar o que estava sentindo, seguir com seus desejos sem se preocupar com as possibilidades ruins... Ainda lembro do dia em que você me contou que aprendeu comigo a enxergar o caminho por trás do objetivo... Foram tantos os detalhes que tivemos conhecimento sobre nós mesmos por todo esse tempo... E agora você se foi. Embora. Para um outro lugar. Talvez melhor. Sem dor. Sem medo. Sem sangue. Sem pessoas. Sem miséria. Nada além de você e das suas lembranças. Eu sempre quis o seu ideal de felicidade para você, mas se soubesse o que era de fato, teria impedido, teria brigado, teria dito poucas vezes “não”. Teria, teria, teria...

Teria pedido que não partisse nunca, que ficasse comigo, que não levasse consigo uma das minhas colunas, que não fosse tão longe, que desse ao mundo a oportunidade de te conhecer mais como eu, enquanto outro próximo, conheci. E mesmo conhecendo, não consigo acreditar que você escolheu partir. Deixar o mundo que o cercava por algo tão pequeno, não foi vontade sua. Vontades do acaso não deveriam ser ouvidas... Eu esqueci de te contar isso... Talvez porque sempre acreditei que era uma espécie de verdade universal. Nem sempre o acaso é a realidade. Na maioria das vezes, ele é a materialização de um pensamento disfarçado de realidade. E isso machuca. Me desculpe por não ter percebido antes.

Te peço desculpas eternas por não ter dito tudo que se passava na minha cabeça ou no meu coração. E agora só posso prometer que sentirei saudade.
Saudade de tudo. Saudade de você. Saudade dos momentos. Saudade.
E mesmo assim, brindo a tua felicidade. E isso independe de onde estiver.
Agora e sempre, para sempre. E até a nossa próxima vida.
Porque se eu te encontrar, prometo não errar mais.


AGORA

The Pieces Don't Fit Anymore - James Morrison

Vick
Parar em frente ao espelho ou a um amigo e olhar os olhos. Cachorros. Contos de fadas. Comédias românticas. Brinquedos. Picolé de brigadeiro. Ficar debaixo das cobertas sem motivo aparente. Sentar para observar o mar. Pipoca. Gloss, rímel e lápis de olho. Blush. Cheiro de roupa nova. Dormir. Dormir com o barulho de chuva na janela. Ir ao cinema em qualquer dia ou horário. Madrugadas. Horizontes.

Perfumes. Beijo. Abraço apertado. Chorar para desabafar. Falar bobagem com amigos. Desenhos animados. Texturas. Coisas de papelaria. Rosa. Rosa com branco e com preto. Laranja com azul. Revistas. Livros. Receitas. Caixas de bijuteria.

Fazer bolo. Passar o dedo na tigela com resto de massa e lamber. Tentar preparar pratos gostosos. Estourar plástico bolha. Ir pro shopping sem pressa. Música que me faz dançar. Música que me faz chorar. Música. Silêncio. Assistir TV. Chorar com cena clichê de novela. Procurar doces pela bolsa. Presentear pessoas que gosto. Livros de suspense. Assistir “À espera de um milagre” e chorar toda vez. Chocolate. Morango.

Cheiro de camarão fritando com alho e azeite. Strass. Pisca-pisca em árvore de Natal. Sorvete de chocolate com pedaços de chocolate. Sorvete de cappuccino. Praça com velhinhos conversando e jogando. Fazer do preparo do ovo frito uma aventura na cozinha. Brigadeiro de panela.

Tomar banho quente depois de um dia ruim. Ir a um bom restaurante. Brincar de stop com um monte de gente. Milkshake de ovomaltine. Café. Sapatos. Coisas fofas. Dividir o trabalho do curso em quatro partes e fazer uma por dia até a quinta.

Ler revistas sérias e depois procurar fofocas na internet. Cantar junto com a música. Meg me pedindo carinho. Fotos antigas. Ter uma grande idéia. Ter várias idéias. Cores das estações. Escolher uma cor de esmalte.

Comer bala de gelatina e fazer cara feia por causa da parte azeda. Minha mãe me fazendo carinho. Cafuné. Gibis. Céu estrelado. Pastel. Pão de queijo. Menina delicada. Enfeitar o módulo da A.I.S. Óleos e hidratantes.

Refrigerante. Filmes de terror. Ficar com medo dos filmes de terror. Lontras. Dar um abraço demorado quando alguém precisa. MSN.

Ficar falando mal das roupas das atrizes mal vestidas. Andar de mão dada. Coca-cola com gelo. Céu azul. Chiclete de menta forte. Halls de morango. Frio.

Mocinhas de comédias românticas. Os carinhas apaixonados das mesmas comédias. Batata frita. Hambúrguer. Olhar pela janela. Inglês. Ficar na frente do computador ouvindo música e fuçando no orkut.

Fondue. Velas e incensos. Fotos dos pratos nas receitas. Cachorro abanando o rabo. Escrever. Amigos que estão longe, mas que cuidam de mim como se estivessem na casa ao lado. Papéis de carta. Finais felizes.

Posso ter esquecido de muita coisa, mas essas, com certeza, ajudam a me descrever com alguma verdade.

AGORA

Mr. Brightside - The Killers

Vick
Naked - Avril Lavigne
((Nua))

I wake up in the morning

Eu acordo de manhã
Put on my face
Coloco minha máscara
The one that's gonna get me
A que vai me fazer passar
Through another day
Por outro dia
Doesn't really matter
Realmente não importa
How I feel inside
Como eu me sinto por dentro
'Cause life is like a game sometimes
Porque a vida às vezes é como um jogo

But then you came around me
Mas então você chega perto de mim
The walls just disappeared
As paredes desaparecem
Nothing to surround me
Não há nada para me cercar
And keep me from my fears
Nem me proteger dos meus medos
I'm unprotected
Eu estou desprotegida
See how I've opened up
Veja como eu me abri
Oh, you've made me trust
Oh, você me fez confiar

Because I've never felt like this before
Porque eu nunca senti nada assim antes
I'm naked
Eu estou nua
Around you
Perto de você
Does it show?
Dá pra perceber?
You see right through me
Você vê através de mim
And I can't hide
E eu não posso esconder
I'm naked
Eu estou nua
Around you
Perto de você
And it feels so right
E isso parece tão certo

I'm trying to remember
Eu estou tentando me lembrar
Why I was afraid
Por que eu tinha medo de
To be myself and let
Deixar-me e deixar
The covers fall away
As proteções caírem
I guess I never had someone like you
Eu acho que nunca tive alguém como você
To help me, to help me fit
Para me ajudar, me ajudar a me ajustar,
In my skin
Na minha pele

I never felt like this before
Eu nunca senti nada assim antes
I'm naked
Eu estou nua
Around you
Perto de você
Does it show?
Dá pra perceber?

You see right through me
Você vê através de mim
And I can't hide
E eu não posso esconder
I'm naked
Eu estou nua
Around you
Perto de você
And it feels so right
E isso parece tão certo

I'm naked
Eu estou nua
Oh oh yeah
Oh oh sim
Does it show?
Dá pra perceber?
Yeah, I'm naked
Sim, eu estou nua
Oh oh, yeah yeah
Oh oh, sim sim

I'm so naked around you
Eu estou nua ao seu redor
And I can't hide
E eu não posso esconder
You're gonna see right through, baby
Você vai ver através de mim, baby
Vick
Não consigo encontrar uma explicação plausível para o que vem me acontecendo... Eu, que sempre recriminei as possibilidades fajutas e ilusórias, as esperanças desnecessárias, os sonhos irrisórios, a mediocridade da acomodação, a insuficiência da vontade, o medo da dor, a falta de crença no brilho do olhar, a falta de coragem para levantar e encarar a pior pessoa do mundo no espelho, a covardia diante dos desejos mais incontroláveis, a falta de visão no caminho, o objetivo comum mascarado, a desvalorização do segundo como momento especial... Que sempre coloquei essas atitudes num patamar inferior... Sempre quis mostrar que não se vive assim, que há melhores escolhas a serem feitas... Estou doente, fraca. Estas foram atitudes inerentes a mim por muito tempo... Mas agora vejo que era uma farsa. Sempre foi. Pelo simples fato de que eu sou uma farsa. Ou eu realmente estou doente.

Talvez eu não exista como sempre imaginei. Com certeza, eu não tenho me sentido de verdade. Parece que tudo que preguei foram palavras bonitas às paredes esperando que fossem rebatidas e voltassem para mim de alguma forma um pouco mais penetrante. Em um dia eu pude perceber como eu me apego a possibilidades tão remotas quanto o controle que me deixa mudar o canal da televisão na sala do quarto, deitada, inerte. Como criei esperanças quando senti um toque diferente do vento no meu rosto e achei que era uma espécie de sinal divino me avisando que as coisas iriam mudar. E nunca mudaram. E eu sempre aceitei. Eu tenho tempo para os outros e para o mundo, mas esqueço de nutrir o fogo que tenta aquecer a minha alma e por isso ela vem esfriando a cada dia. Eu estava cheia de vontades insignificantes, incapaz de torná-las desejos aguçados ou somente as seguir...

As coisas que queria não foram consumadas mesmo quando todas as minhas forças haviam sido canalizadas... Agora que não se realizaram, começa a surgir a dúvida sobre a veracidade do valor que tinham... Talvez não fossem me fazer o bem que eu imaginava e esperava, e confesso que ainda imagino e espero, mas eu não consigo imaginar falta mais corrosiva que a que estou sentindo agora... É como se toda a estrutura do meu corpo estivesse fragilizada e a alma escapasse pelas pequenas grandes lacunas que se espalham por mim... E são muitas... Eu vou perdendo o fôlego e me contorcendo no chão... Como se os espasmos no peito não fossem parar enquanto não acabassem as lágrimas ou o ar. Eu quero meus sonhos de volta. Eu era feliz com eles.

Talvez eu não seja a farsa que pareço ser depois desse texto... Talvez eu só precise de um pouco da esperança que tanto repudio... Eu acreditei tanto nas coisas que disse ao outro e ao mundo que esqueci que nada é tão letal que não seja, em mesma proporção, essencial. Eu não devia ter deixado os sentidos, as sensações e os sentimentos de lado por coisas que acreditei. Por isso eu já não tenho muito. Já não tenho muito tempo para investir no normal. Os extremos tiraram de mim sopros vitais. Perdê-los, e em seqüência, não tem me feito bem... Mas vai passar. Já está passando. Provavelmente em muito menos tempo do que parece que vai durar já terá passado por completo. Vou me preparar para reorganizar o meu castelinho e seus longos muros.

AGORA

Espatódea - Nando Reis