Vick
Eu adoro as pessoas. Sério mesmo... Fico imaginando como seria a minha vidinha sem elas e sem todas as reações que elas me causam. Existem as pessoas que eu adoro, as que eu odeio, as que eu desprezo... São todas lindas e maravilhosas. Mas o texto é para falar das pessoas que tentam ser as representações magníficas dos seres tristes. É mentira. Não consigo mais acreditar que alguém possa estar insatisfeito o tempo todo com absolutamente tudo na sua vidinha aparentemente medíocre e que, mesmo assim, acha tão delicioso não fazer nada para mudar. Só pode ser mentira. E, acreditem, é mesmo.

Eu, quando não estou ao menos satisfeita com alguma coisa, procuro entender o que está acontecendo, onde está o problema, quais são os prós e quais os contras em manter tal entidade na minha vida, me irrito, grito, choro, escrevo sobre o que está me afligindo, monto estratégias de guerra e roteiros de novela para sanar minhas mágoas... Mas eu dou um jeito. Eu não tenho paciência para estar o tempo todo triste, sofrendo, amargando uma derrota que nem sempre foi produto do meu fracasso... Eu quero explodir o mundo. Eu quero explodir. Eu quero fazer alguma coisa para mudar o aspecto dessa lacuna incômoda no meu roteiro. Eu mudo de personagem, de cenário, de história, de sonho, de companhias, de planos... Eu mudo de vida, se for necessário. Mas me causa ânsia de vômito gostar de estar no fundo do poço. Não é para mim.

Eu quero sair e sorrir, ficar em casa de bobeira, consumir litros de refrigerante, jogar videogame torcendo mais do que jogando o jogo em si, dormir tarde e acordar mais tarde ainda... E se houver algo no mundo incomodando como pedrinha no sapato, eu vou ao menos tentar retirar como faço com a pedra. Não quero me martirizar sem sentir a necessidade. E não consigo entender quem faz isso. Se há crime, que haja castigo. Para mim e para quem colaborou. Assumir uma falha alheia devia ser contravenção penal ou coisa assim. Chega, minha gente! Qual o prazer em sofrer o tempo todo? Até quem gosta de (sado)masoquismo tem seus momentos de prazer e felicidade.

Então alguém me explique, por favor, por que motivo estúpido alguém gosta de se sentir mal o tempo todo. Porque eu desisto. Quando a situação fica ruim, desagradável, chata, morosa, triste, eu desisto. Não tenho esse dom para sofrer e aparentar estar feliz. Eu sou hipócrita e minto, como qualquer bom ser humano, mas viver numa mentira é um pouco demais até para mim. E olha que sou ótima em me enganar com as pessoas.


AGORA

Animal I Have Become - Three Days Grace

Vick
Ainda há quem acredite em contos de fada... E ainda há quem queria fazer parte de um e por isso transforma cada gesto numa cena, numa página... E há essa princesa. Princesa porque fizeram-na acreditar em sonhos, em possibilidades, em escolhas.

Ela era feliz. Tinha uma vida feliz, uma família feliz. Sonhava, corria, cantava para os animais... Era uma criança; se em alma ou em idade, impossível saber. Sempre foi bonito vê-la caminhar sem rumo. Entre escolhas, caminhos, perdas e abandonos, ela seguia. Às vezes cercada por multidões, às vezes por poucos amigos, às vezes por animais, muitas vezes só. E num desses desvios, havia uma nova escolha a fazer. Havia três reinos. Três príncipes. Três vidas. E ela podia ver um esboço dessas vidas. Ela só tinha que escolher.

O primeiro príncipe lhe oferecia o riso como vida. Oportuno ou não. Dizia-lhe que era carinhoso e bom. O melhor entre os bons. Contava quantos já derrotara e por onde andara com seus amigos. Gabava-se de uma habilidade incomum: saber quanto poder o outro tem através de suas posses. Seus pais lhe deram os mais belos berços, mas esqueceram das prioridades. Esqueceram, também, de avisar ao jovem príncipe que encarar o mundo como fazia era um enorme equívoco e que ao seu redor tudo ficaria deserto se permanecesse com tais projetos. Via na ambição o caminho para o sucesso. Ela não concordava. Mesmo sendo obrigada a realizar uma escolha para poder seguir com sua vida, a princesa não queria somente o riso ou a falácia. Ela precisava de mais. Ela sabia que podia oferecer mais. Acabaria vazia por tentar preencher as lacunas que o principezinho deixava em branco.

E foi ao outro lado. Olhou para o outro canto e avistou outro príncipe.

O segundo príncipe lhe oferecia o sonho e a aventura como vida. Conseqüentes ou não. Contara-lhe sobre todas as campanhas que fez e por todos os reinos pelos quais passou. Mostrou um corpo esculpido pela aventura. Mostrou que os pequenos de seu reino o idolatravam. Procurou parecer sempre bom. E no fundo ela sabia que ele era. Prometeu-lhe um mundo de conquistas, viagens, mais sonhos e mais aventuras. Parecia tudo muito bonito e excitante. Mas a pequena princesa precisava, também, de bases e momentos de acolhimento. Imaginava como seria viver de paisagens e não via a felicidade, apenas lugares bonitos. Ela não queria mudar sempre. Ela não queria mais viver um pouco de cada lugar. Ela queria saber como é aproveitar cada momento do lugar em que está. Sempre lhe faltou algo. Seguir o galante príncipe seria cansativo. E esperá-lo seria arriscado. Quando estariam juntos de verdade? A única resposta que ecoava em sua mente era: “Nunca!”… E isso causava um desespero sem igual nela.

Então olhou para o príncipe à frente. Ela não havia reparado nele antes porque já o conhecia há algum tempo. Mas foi naquele momento que ela havia visto um príncipe no lugar do sempre amigo.

Ele lhe oferecia algo que nunca teve: vida como vida. Com bons momentos. Com maus momentos. Mas era a mais pura e tenra concepção de vida que ela havia ouvido dos três. Os sonhos existiriam, mas seriam transformados em realidade. Mas não seria a consumação da perfeição. Ela o conhecia. Sabia dos seus defeitos, porém amava suas qualidades. E de tudo que ouvira naquele dia, as palavras leves que o bom príncipe dizia soavam como poesia ou coisa parecida. Era bom demais para ser verdade. Mas era. Seria o momento de experimentar as frutas que sempre desejou, mas ninguém ao seu redor pôde oferecer. Parecia o momento. O passo. Ela sabia exatamente onde pisaria. Ele não entrava em contradição como o jovem príncipe ou esbanjava de um ar aventureiro extremista como o galanteador. Ele parecia um príncipe normal. E isso a atraía muito. Ela deu um passo à frente. Queria aceitar a chance. Queria mesmo. Mas teve medo.

E recuou. Deu as costas a todos eles. E deu um presente a cada um deles.
Ao primeiro, deu seu sorriso mais complacente e um conselho: que crescesse como homem antes de se tornar rei.
Ao segundo, deu seu abraço mais saudoso e, também, um conselho: que aprenda a criar raízes antes que seja tão superficial a ponto de virar pólen.
Ao terceiro, deu sua lágrima mais sentida e fez um pedido: que não perdesse o pedaço da alma que ela havia dado através de um pequeno símbolo próprio.

E voltou pela mesma estrada que a levou aos três príncipes. Tentou reparar nos pequenos detalhes que havia ignorado na primeira passagem. E então ela viu, sentado à beira da estrada, um jovem rapaz. Muito bonito, muito educado, muito gentil... Perguntou se podia se juntar a ele no que estava fazendo. Fora aceita imediatamente. Ele trazia consigo boas histórias e um instrumento para abalar os momentos de quietude. Conversaram por horas... Dias... Os outros procuravam pela princesa, mas ela permanecia ao lado do rapaz tido por incógnita. E eles dormiam e amanheciam perto. Faziam planos e suspiravam por decisões que tomaram e por decisões que deviam ter tomado. Mas algo nele a acalmava como em poucas vezes. Naqueles momentos, o resto não importava.

Os outros não saíam de seu pensamento. Procurava incansavelmente por respostas. Para ouvir e para dizer. Esperava que alguém viesse e a salvasse do turbilhão de angústias que a cercava. Rezava baixo para que o primeiro príncipe entendesse que precisava crescer, para que o segundo não perdesse sua fé nos seus sonhos e para que o terceiro não perdesse a sua alma. E esperava feliz ao lado daquele que parecia ser o único que a entendia. E ela queria estar ao lado dele mesmo que não se entendessem.

Diferentemente dos outros contos de fada, nesse não houve um final feliz.

Ainda não.

AGORA

Simple Man - Deftones