Vick
Quando eu era pequena, sonhava com o dia em que surgiria o meu príncipe encantado, com uma roupa linda e alva, saído de seu reino para me encontrar e ficar comigo para todo o sempre. Não importariam as bruxas, as princesas arranjadas, os pais contra, nada... Sempre acreditei que quando todo o meu mundo parasse por causa de um olhar trocado, o dono desse olhar seria o dono do meu coração. Alguns anos e muitos ensaios depois, vejo que me enganei. Quando o tempo pára, quando não há mais ninguém por perto, quando nada mais pode desestruturar tanto o corpo, quando nada mais importa... Na maioria das vezes é só mais um momento. Se você tem alguma sorte, até consegue manter o par por mais momentos, quem sabe para sempre (mas aí seria realmente muita sorte)...

Essa não é a regra. Histórias idealizadas não foram feitas para se tornar realidade, caso contrário não seriam idealizáveis. Elas foram feitas para, no máximo, proporcionar um gostinho açucarado na vida... Para fazer você adquirir novo fôlego e resolver lutar por uma vida colorida, sorridente, cheia de possibilidades atraentes... Mas utopias consumadas têm altíssimo valor de troca... Um olho, talvez...

E sabe qual a pior parte? Tem gente, como eu, que ainda acredita que é possível tornar real uma vida a dois quase perfeita... E luta. E sente raiva, briga, chora, desiste, desiste de desistir, fica mais bonita, leva fora, fica feia, troca de par, fica mais bonita ainda, não esquece, e sente... E resolve lutar mais ainda... E acredita que um dia vai conseguir uma resposta definitiva do próprio coração. E também acredita que não vai mais sofrer depois de ouvir essa resposta...

São muitas coisas para acreditar e poucas coisas que são palpáveis... Eu não entendo como estas pessoas, que são como eu, conseguem superar tantas dificuldades por coisas que elas, provavelmente, nunca vão ter. Tamanha estupidez não deveria ser aceita na sociedade... Agimos impulsionados por idéias, por emoções, por vontades e mimos... Deveria haver uma vacina contra essas paixões platônicas... Ou elas simplesmente deveriam ser inexistentes.

Até porque hoje me vejo bem mais feliz estudando durante a semana, indo à praia com amigas no sábado pela manhã e passando o resto do final de semana vendo TV, jogando playstation, comendo pipoca, bebendo refrigerante, de pijama, no sofá... Fazendo brigadeiro no domingo para assistir Madagascar e rir de bichinhos hiperativos cantando “Eu me remexo muito! Eu me remexo muito! Mexendo muito... Mexendo muito..!”...
Seria a vida perfeita, se não fosse apenas um remédio.