Vick
Existe um pequeno poema, atribuído a Mário Quintana, sobre amores e borboletas.

Eis o supracitado.
“Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é a pessoa da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!”

Normalmente eu concordaria com esse pensamento. Na verdade, concordo. Mas gostaria de externar um pouco o que se passa na minha pobre cabecinha e que muito tem a ver com tal poema. O fato é que borboletas são ariscas. Não escolhem um belo jardim para pousar e permanecer. Elas fogem ao primeiro sinal de aproximação, mesmo que seja de um olhar de contemplação. Elas são lindas, representam amores, fases, vozes, sentimentos... Mas nada as impede de ficar. Isso é estranho. Elas podem se aproximar, mas não o fazem. Há quem passe anos sentado na varanda, esperando que uma simples borboleta pouse sobre a mais digna flor de seu jardim. Muitas chegam perto, ensaiam ficar e batem as asas o mais forte que conseguem na direção oposta.

Então eu perguntaria ao Mário... Como é possível acreditar que, apenas esperando e mantendo um belíssimo jardim, elas ainda virão? E se vierem, como saberei que hão de querer ficar?

E eu tenho mais perguntas, que não consigo responder... Mesmo que eu acredite não precisar de alguém, mas ainda assim a ame, como faço para saber se ela não quer nada comigo? Porque essa seria a condição para saber se ela é a pessoa da minha vida, não? E pior! Se descubro que, de fato, ela não é, o que eu faço da minha vida? Porque não é tão simples, como num poema, esquecer cada gota de sentimento e esperança que cultivei dentro de mim, acreditando que um dia pudesse doar parte do meu coração a uma pessoa que não quer e não merece e acreditar que todas essas coisas não tenham sido em vão.

Eu me adoro. Às vezes acordo de mau humor e com o cabelo feio, mas gosto de mim como sou. Com cada defeito e com cada virtude. Gosto das pessoas que gostam de mim... Mas não odeio quem não gosta. Nunca obriguei ninguém a permanecer um segundo ao meu lado se não fosse de seu agrado. Pode ser que eu seja estúpida, ingênua ou, simplesmente, iludida, mas eu gosto de acreditar que as coisas estão sempre boas, ou que sempre podem melhorar, ou que sempre têm algo de bom a oferecer. E eu me apaixono por quem não deveria. Mas eu não esqueço. E também não corro atrás. Eu sento e espero, com meu lindo jardim, que ele venha a mim. Eu não sou boa com perseguições. Gosto de acreditar que as coisas acontecem ao prazer da vida, ao sabor da sorte... Ou ao simples acaso. Bem como gosto de acreditar que sempre acontece algo.

O que eu queria saber, de verdade, é por que as borboletas não chegam nem ao menos perto do meu jardim... O que eu encontro sempre são abelhas, formigas, cigarras, canários...
Eu costumo ter medo de borboletas, mas acho que são tão bonitas...