Vick
Eu precisava escrever.
Por para fora tudo aquilo que vem me sufocando, deprimindo e amargando a tempo suficiente para eu pirar. E pirar nas mais diversas camadas do meu eu.

Há muito já não vejo o mesmo brilho nos meus olhos, meu sorriso bobo ou a minha eterna esperança de viver um grande amor – com passarinhos e música de fundo –, não quero mais a faculdade, não quero mais a cidade ou os tons que me perseguem... Não quero mais essa vida que não brilha, que não é preto e branco, pastel ou de cores vibrantes... Nada disso sou eu. Aliás... Quem sou eu hoje se não a sombra de quem eu era há um tempo?

Tenho fantasmas nos ombros que me lembram todos os dias de um passado outrora gracioso, de risos e danças, de pulos e suspiros, onde flutuar era o meu passo, hoje mais pesado que uma rocha. E eu tenho memória. E a pior memória não é aquela que apaga o que é importante... É aquela que não deixa esquecer. E se você não deixa partir a lembrança, você não vai em frente.

Gosto de acreditar que meu labirinto particular tem no seu secreto centro uma porta que vai me deixar finalmente escapar das peças que minha mente vem me pregando... Dores, receios, fugas, desleixos... A falta de interesse virou figura dominante nos meus dias. E eu me odeio por isso. Eu me odeio por perder o fôlego sempre que penso em tudo que passou. E eu penso 24h. Malditas vinte e quatro horas que não passam nunca. Parece que eu me proibi de seguir em frente. De ignorar. De parar de pensar no “e se…”.

Mas e se?

E
SE?

E nada. Porque não tem nada. Nada mesmo. E eu sei. O problema é que o “e se” não sabe. E a ignorância alimenta os sentimentos errados.

Desânimo. Cansaço. Dor de cabeça. Irritabilidade. Choro excessivo. Dor no peito. Dor na alma. Letargia. Cogitar outra vida. Sumir. Fugir? Não. Ressurgir. O sonho de ser fênix só nasce quando você se queima e não consegue apagar a cicatriz.

Escrevo porque tenho esperança que cada palavra escrita retire de mim o peso da minha consciência, dos meus ombros. Já me dói a coluna… A má postura não me deixa erguer a cabeça.

Será que quem eu era foi tão mais vital do que quem eu posso ser? Porque hoje já não sou ninguém. Sou vento. Arruinado, atormentado, disperso... Ainda assim vento.

E como dói o coração... Já pensei estar prestes a ter um ataque e confesso que apenas me deitei e esperei. Ele nunca veio. Quis fazer terapia, mas achei egoísmo. O que são pequenos transtornos perto de um mundo como o que vivemos? Bobagem, talvez. Melhor não.

Queria ter um colapso. Um breakdown tal que me abatesse de uma vez e eu pudesse chorar tudo que nunca chorei, gritar tudo que jamais gritarei e apagar. Não no sentido de desfalecer. Gostaria de apagar as memórias. Um pouquinho já ajudaria a liberar espaço numa mente vazia.

“Mente vazia, oficina do Diabo!”
E de lá vem tanta coisa que a mente fica cheia, paranóica.

Dói, mas passa. Já passou por fora. Já passou nas palavras. Já passou na máscara. Vai passar por dentro, como um raio. Destruindo tudo, mas vai passar... Até porque não me apetece ser a Debbie Downer do grupo ou a Blue Valentine... Eu não sou assim!

Eu posso até não saber onde estou ou quem eu realmente decidi ser... Sei que não quero mais ser assim. Quero ter paixão pelo que faço, fogo nos olhos, nuvens nos pés... Eu quero me apaixonar pela vida que tenho, pelas possibilidades que meu caminho oferece... E se é pra ficar assim, que eu consiga ser bem resolvida com isso. Seria bom finalmente entender que, ok, cinza é legal e não triste.

Isso não é nenhum pedido de socorro, muito menos uma tentativa insana de conseguir pena… É um desabafo. Meu. Precisa estar aqui para marcar o fim de muito tempo sem assumir a responsabilidade por tudo que não fiz porque estava ocupada demais sendo apática.

Patética.

Eu sei.

Mas... Quem liga? Eu já passei tanto tempo sem ligar... Não faz diferença, mas eu precisava escrever.