Vick
O mais legal em conviver com outras pessoas é que o seu talento como ator é lapidado a cada sorriso, beijo e abraço forçadamente espontâneos que desprendemos. É simplesmente lindo como a conveniência impera majestosa sobre quase todas as relações humanas, só não talvez sobre a relação entre pais e filhos. Mas de resto? Nada escapa às garras da conveniência. E que fique bem claro que eu não estou puramente reclamando. Acho bem mais válido esse mundo de relações líquidas que mais parecem várias pequenas farsas bem aceitas a uma solidão forçada (como se toda solidão, de algum modo, não o fosse.). A convivência com terceiros é necessária, mesmo que algumas situações não o sejam.

Esse teatro de bonecos sorridentes e de sorrisos incrivelmente forçados me admira e me espanta como poucas coisas na vida. Esse pré-julgamento que fazemos do outro é lindo, é mágico e é quase cruel. Entretanto, toda essa farsa é condição sine qua non para o meu entendimento como ser social, ou melhor, não só para o meu entendimento, mas para o de todo e qualquer ser.

O meio em que vive ou viveu, as situações as quais enfrenta ou enfrentou, as relações que traça ou traçou, tudo isso é simplesmente essencial para entender cada ação adotada como natural pelo indivíduo. Eu não entendo o indivíduo se não entendo o meio que o cerca e, principalmente, influencia. A família, os amigos, os amores, os que mandam, os que obedecem... Todos influenciam no comportamento do ser. O que há de natural no homem é sua capacidade de moldar-se ao meio. Não é falta de personalidade, é apenas uma situação inerte ao mesmo. E não há algo plausível que sepossa fazer para mudar definitivamente isso.

O grande erro está, justamente, em tentar mudar essa condição. Quando o meio está extremamente homogêneo (e acreditar que há tamanha homogeneidade no meio já é um grande erro), sempre há um indivíduo que resolve mudar. O que não se percebe é que basta que um busque ser a diferença para que todos busquem sê-la também. E assim, o meio de diferentes permanece sempre igual. Quanto mais diferentes procuramos ser, mais iguais ficamos. Manter padrões, às vezes, é a melhor escolha. E talvez essa seja a saída para que o meio não influencie muito todo o tempo. Ou não de forma tão aparente.

Se é tudo uma farsa, uma igual farsa, não há um porquê para sofrer ou deixar-se abalar. Só é preciso uma fortaleza bem construída, uma máscara bem bonita e um sorriso bem feliz (ou forçadamente feliz). Quando estiver tudo péssimo, você usa do sorriso, abusa da tua bela máscara e se protege em sua fortaleza, sempre de vidro, assim todos terão uma suave projeção da tua personagem. Estará tudo sempre bem.

Parar de dar credibilidade à influência triste e negativa do meio (quando a mesma o é) é forçá-lo a desistir. E ele sempre desiste. É então que podemos sentir e sorrir de verdade. Muito mais que apenas aproveitar o momento, é preciso lembrar que quando tudo parece ruim a culpa não é toda nossa e que o próximo segundo pode ser bem mais real e valoroso que o agora.

Todo mundo é muito bom, mas meu chapéu sumiu.

AGORA

Nada
Nó na garganta que não desfaz
Austrália
Nada
Because of You - Ne Yo