Vick
Há que se convir que a realidade é bem mais satisfatória quando não a levamos em conta.
Há, também, que se lembrar que uma possibilidade nunca é toda própria. Sempre haverá, junto a cada uma delas, uma outra, uma consequência, uma negação...
Há que se lembrar de que o mundo vai além, que sempre estamos um tanto aquém do idealizado. Todo ser humano é falível, extremamente falível.
Como é fato que não há como não falhar, afinal cada escolha nos faz adentrar cada vez mais nesse labirinto impiedoso o qual conhecemos por vida, é fato de que não se pode esperar por muito tempo que os erros desapareçam ou consertem-se por passe de mágica. Não há porta, pote de ouro, centro secreto ou muros. Não há conserto. Cada segundo e cada segunda escolha nos fecha (ou ao menos afasta um pouco mais) da porta que abre o ideal. E como não existe porta, não existe ideal. Existe o agradável. Se mais ou se menos, não importa. Importa é a sensação despertada.

Impenetráveis. Os caminhos que traçamos e escolhemos seguir desembocam em armadilhas quase sempre conhecidas e quase sempre impenetráveis.
Mas o que faremos com eles? Sigamo-los, o que mais é possível fazer se não respeitar ora com maior intensidade, ora com menor, nossas vontades e intuições?!
Em Labirinto, Jorge Luis Borges disse "Não esperes que o rigor de teu caminho, que teimosamente se bifurca em outro, tenha fim. É de ferro teu destino, como teu juiz". E nosso juiz é a nossa própria consciência. Tão bem trabalhada anos a fio pela sociedade e, em alguns casos, esporadicamente até mesmo puramente por nós, nos faz temer os desafios aos quais nos propomos realizar. Até que se prove o contrário, tudo tende a dar certo. Então qual o problema em arriscar? Na verdade, o único empecilho é o medo e o medo é a manifestação mais cruel da nossa consciência...

Devaneios à parte, deixe-me ao menos tentar integrar os dois primeiros parágrafos a mim.
Tem alguma coisa, e eu até faço certa idéia do que pode ser, que está me incomodando. Como se fosse uma daquelas pedrinhas afiadas e pequenas que caem no teu sapato e você demora para se ver livre de tal corpo incômodo.
Chega a me parecer injusto... Acontecem "n" coisas agradáveis comigo, mas a sensação de falta (ou excesso, em alguns casos) sempre me persegue. E quando mais soar como injúria sentir-se mal por qualquer que seja o motivo, eu me sinto. Mas existem motivos. Os meus motivos... E os mesmos são de uma validade inacreditavelmente embasada para mim. O que dói é saber que eu falhei em decisões simples, em momentos aparentemente simples, mas de uma crucialidade incomum. O que faz essa dor passar é acreditar que a falha é condição sine qua non para o processo evolutivo do homem.
O que dói mais é suportar uma pressão insuportável e não possuir válvulas de escape que de fato ajudem em algo. Há muita pressão sobre mim e eu não consigo fugir dela. Até as coisas que me faziam bem, que me faziam relaxar ou até mesmo sair de órbita por um ou dois segundos transformaram-se em dúvidas. E as dúvidas sempre me corroeram. Não que o que me fazia bem agora faça mal, apenas não sei por quanto tempo mais o saldo será positivo.

Mais que não ter medo ou começar a tê-lo, preciso, antes, saber como lidar com ele.
Saber, também, até quando suporto a pressão e até onde não me faz falta ter um ponto de fuga.
Quando eu souber, agora, o mínimo sobre esses (novos) aspectos, estarei infinitamente melhor, talvez como antes. Mas antes eu sabia tudo isso.

AGORA

Melancia
Sono
Num sonho estranho
Nada
Everything - Michael Bublé