Vick
Há certo tempo, e se tivesse que escolher uma data para especificar qual o ponto de partida, diria, talvez, 26/12/2006, me prometi mudar. Mudar não só fisicamente, mas também padrões, gestos, espaços, aberturas, ações e reações. Eu prometi não acreditar mais nas coisas que me fizeram mal e não acreditar mais, também, em algumas coisas que, para muitos, são ditas essenciais. Eu prometi por mágoa e por orgulho... Não poderia aceitar mais decepções fossem elas com amigos, fossem com namoradinhos...
Nesse momento a palavra do outro não me satisfazia, não mais. Eu precisava ir um pouco mais além dentro de mim para saber se seria válido, se valeria a pena arriscar as minhas últimas fichas em quaisquer que fossem as possibilidades... Já tive muito menos medo de perder, porque sempre tive de sobra coragem pra sentir a dor do tapa, mas hoje em dia eu já não tenho tanta disposição assim... Agora eu sei que arriscar pode machucar... E talvez saiba por que após tantos socos eu tenha adquirido algum traumatismo, trauma pelo trauma... Chegou a soar estranho...

Pois na minha plena convicção de que estava protegida, descobri que meu vigia era burro... Que sempre abria a porta dos fundos para que o vento circulasse um pouco mais... Entretanto não a fechava e sempre me cabia ou manter o vigia atento ou me forçar a ficar atenta à tal porta... O porém que sempre acontece é que vez ou outra me junto ao vigia para um bom jogo de cartas e me esqueço de fazer valer sua função. É nesse deslize que passam pessoas e situações das quais nem sempre estou preparada para receber...

Foi assim com ele... Eu não estava, e confesso que ainda não sei se estou, preparada para recebê-lo... Chegou do nada e talvez por muito pouco, me deu algumas boas porradas e se impôs mais que muitos outros com muito menos do que eles...
E não sei o motivo, antes que eu mesma me pergunte.
Deve ter sido o jeito de rocha, sem sorrisos ou explosões, com mão e toque sutis que abriram tanto espaço em tão pouco tempo... O modo quase rude como cospe, por vezes, as palavras na minha cara ou o abraço mais confortável do mundo... O mesmo braço que puxa meu cabelo e que causa dor é o mesmo braço no qual eu dormiria sem maiores medos... O olho que por vezes esconde perfeitamente o pensamento é o mesmo que na maioria das outras vezes diz muito mais que muitas palavras ditas...
Aquilo que me incomoda esporadicamente é o que me deixa segura e me atrai na maior parte do tempo...

O humor que muda num piscar de olhos é, talvez, o que mais me instiga nele... Acho que por mimos feitos por todos à minha volta por quase toda a minha vida eu não aceite bem a idéia de não saber o que ele pensa e/ou sente em relação a mim... Sempre ou me odiaram ou gostaram de mim... As poucas incógnitas eu acabei deixando pelo caminho talvez por me contrariarem, talvez por esquecimento ou quem sabe até mesmo talvez por simples e puro distanciamento de caminhos... Mas com ele é diferente... Eu tenho que ir atrás... E o mais incrível é que eu sempre vou... Nunca me ocorreu isso e, justamente por tal fato, não sei quais ações tomar, o que pensar ou como agradar... Toda essa falta me corrói... O medo de perder, que nunca havia se mostrado tão bem, permeia cada milímetro de mim... Eis outro problema...

O que perder se nada tenho? Afinal, não é plano dele “ter”, ao menos não ME ter... Na verdade isso nunca incomodou, porque nunca foi algo que eu quisesse ou me importasse, até que eu percebi que o que nunca quis se tornou desejo, vontade ou pior, sinal de esperança. Já disse milhares de vezes por aqui que odeio essa sensação... Considero parte do grupo das piores coisas que nós, seres humanos, alimentamos... Possibilidades são maravilhosas, deixar que essa praga que é a esperança cegar-lhe por uma delas pode ser o começo do seu fim.

E não ter controle sobre nada disso mata um pouco mais... Ter consciência de que nem tudo se escolhe na vida, nem gostar do que agrada e não vai além, nem chorar por isso e tantas outras coisas das quais não se tem força suficiente para manipular me deixa, por vezes, mal... Muito mal...

Então eu pisco os olhos... No mesmo segundo o humor dele muda... E eu esqueço de tudo e recaio no vício... Até que eu pisque novamente...
Voltas e voltas, às vezes em círculos, dentro de um labirinto sem saída ou secreto centro, mas que, mesmo assim, me encanta como poucos...
Para completar, não sei se gosto ou se odeio isso... Sei, no máximo, que bambeia por essa tênue linha.


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É... Talvez eu goste...